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'Diabolus in Musica': Filarmônica de Paris mergulha no imaginário estridente dos metaleiros

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Contracultura, provocação, protesto, inspirações satanistas, imagens mórbidas... O que o universo, a música e o imaginário do metal têm a dizer ao mundo contemporâneo? Recuperar essa história - e essa historiografia - foi o desafio assumido por uma das maiores instituições dedicadas à música na capital francesa: a Filarmônica de Paris com a exposição Metal, diabolus in musica, em cartaz até o dia 29 de setembro de 2024.

Não deixa de ser irônico imaginar um dos templos da música erudita e palco na França de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil dedicar um gigantesco galpão para celebrar, com mais de 400 obras, entre "relíquias", instrumentos, imagens, objetos, discos, e cenografias icônicas, alguns dos maiores nomes mundiais do metal. Black Sabbath, AC/DC, Metallica, Sepultura, Megadeth, Iron Maiden ou Led Zeppelin, entre muitos outros. Eles estão todos lá, e muito mais do que um gênero musical, são bandas que instauram uma cosmogonia própria, como conta um dos curadores da exposição, Milan Garcin.

"O desafio para nós era contar a história de uma música e de uma cultura. E, para isso, reunir imagens, arquivos e instrumentos lendários. Penso especialmente na guitarra de Tony Iommi, o guitarrista do Black Sabbath, que é literalmente a guitarra com a qual ele inventou o metal", conta Garcin.

"Trouxemos essa guitarra, que tem um significado especial, principalmente com o uso do triton, esse intervalo que era chamado de diabolus na música medieval, um tipo de intervalo dissonante que os músicos de metal aproveitaram. Um mundo imaginário transmitido por iconografias muito específicas e, obviamente, imagens fotográficas também. Contado a partir das grandes cenas ao redor do mundo e das pequenas cenas locais nas quais as bandas iniciaram suas carreiras", diz o especialista.

"Trouxemos para a Filarmônica uma cena underground, que não havia muitos meios no início e, obviamente, para dialogar com uma música que, reconhecidamente, do ponto de vista externo, é para o público em geral uma música brutal, de difícil acesso", acredita o pesquisador e programador francês.

Milan Garcin fala sobre o nascimento do gênero musical. "É verdade que o metal nasceu em uma cultura em que a religião era onipresente na Inglaterra, no final dos anos 60, e, pouco tempo depois, nos Estados Unidos, lugares onde o Cristianismo teve um forte impacto sobre os costumes e a moral. Era verdadeiramente uma placa de chumbo social. Em primeiro lugar o hard rock, depois o metal, no início dos anos 80, funcionaram como uma espécie de reação à religião no nascimento deste gênero musical, o que explica em parte esse apetite pela iconografia diabólica", diz.

"Mas, simultaneamente, é bom saber que o nascimento da pintura clássica, inspirada da religião, também traz arquétipos de representação de momentos metafísicos como a morte, e o metal vai explorar esses questionamentos através de sua música, que, como princípio, tinha como objetivo ser uma música que assusta. A questão do diabo, numa sociedade muito religiosa, era, evidentemente, um artifício de questionamento para provocar medo nas pessoas", sublinha.

O curador destaca a vocação política do metal. "Acho que o metal também tem a virtude política de colocar um certo número de culturas específicas no mapa mundial. Na Mongólia, por exemplo, há um grupo chamado The Hu, que incorpora o campo diatônico em sua música metal, usando instrumentos tradicionais. E aí está esse gênero musical, construindo todo um mundo imaginário que, obviamente, tem uma vocação estética muito importante, mas também uma vocação política para defender uma cultura e existir no mundo da música popular que é referência mundial", afirma Garcin.

Sepultura e a cena metal no Brasil

"O Sepultura é um excelente exemplo. Além disso, Max Cavalera teve a extrema gentileza de nos emprestar uma guitarra para a exposição. E ele teve também essa intuição de se adaptar a diferentes subgêneros da música metal ao longo do tempo; ele começou no trash metal com o Sepultura, mas também fez bastante New Metal, esse novo subgênero que surgiu no final dos anos 80, início dos anos 90, com sua segunda banda, Soul Fly", sublinha Garcin.

"Ele teve essa intuição de fazer durar essa música brasileira, mas ao mesmo tempo, integrando-a com um certo número de códigos... Sabemos, por exemplo, de seu amor pela seleção brasileira de futebol. Portanto, há toda essa cultura de música de estádio que interage com o futebol, o que obviamente é muito simbólico para o Brasil, pelo menos em uma escala internacional", reconhece.

"O Sepultura teve a incrível intuição de colaborar com os povos indígenas no Brasil. Pediram a eles que colaborassem no disco musicalmente, em várias faixas. O título que é obviamente baseado nesse momento é Root Bloody Roots. Então, claro, a questão das raízes do grupo é muito importante", lembra.

"E também foi um desafio para eles, eu acho, conseguir identificá-las, essas raízes, no contexto de uma música popular que é capaz de falar com todos no planeta. Essa foi uma aposta incrível. E aqui temos essa capacidade de espalhar essa música tradicional brasileira pelo mundo, como a Bossa Nova fez, e como outras formas de música mais tradicionais fizeram", diz o curador.

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Não deixa de ser irônico imaginar um dos templos da música erudita e palco na França de nomes como Caetano Veloso e Gilberto Gil dedicar um gigantesco galpão para celebrar, com mais de 400 obras, entre "relíquias", instrumentos, imagens, objetos, discos, e cenografias icônicas, alguns dos maiores nomes mundiais do metal. Black Sabbath, AC/DC, Metallica, Sepultura, Megadeth, Iron Maiden ou Led Zeppelin, entre muitos outros. Eles estão todos lá, e muito mais do que um gênero musical, são bandas que instauram uma cosmogonia própria, como conta um dos curadores da exposição, Milan Garcin.

"O desafio para nós era contar a história de uma música e de uma cultura. E, para isso, reunir imagens, arquivos e instrumentos lendários. Penso especialmente na guitarra de Tony Iommi, o guitarrista do Black Sabbath, que é literalmente a guitarra com a qual ele inventou o metal", conta Garcin.

"Trouxemos essa guitarra, que tem um significado especial, principalmente com o uso do triton, esse intervalo que era chamado de diabolus na música medieval, um tipo de intervalo dissonante que os músicos de metal aproveitaram. Um mundo imaginário transmitido por iconografias muito específicas e, obviamente, imagens fotográficas também. Contado a partir das grandes cenas ao redor do mundo e das pequenas cenas locais nas quais as bandas iniciaram suas carreiras", diz o especialista.

"Trouxemos para a Filarmônica uma cena underground, que não havia muitos meios no início e, obviamente, para dialogar com uma música que, reconhecidamente, do ponto de vista externo, é para o público em geral uma música brutal, de difícil acesso", acredita o pesquisador e programador francês.

Milan Garcin fala sobre o nascimento do gênero musical. "É verdade que o metal nasceu em uma cultura em que a religião era onipresente na Inglaterra, no final dos anos 60, e, pouco tempo depois, nos Estados Unidos, lugares onde o Cristianismo teve um forte impacto sobre os costumes e a moral. Era verdadeiramente uma placa de chumbo social. Em primeiro lugar o hard rock, depois o metal, no início dos anos 80, funcionaram como uma espécie de reação à religião no nascimento deste gênero musical, o que explica em parte esse apetite pela iconografia diabólica", diz.

"Mas, simultaneamente, é bom saber que o nascimento da pintura clássica, inspirada da religião, também traz arquétipos de representação de momentos metafísicos como a morte, e o metal vai explorar esses questionamentos através de sua música, que, como princípio, tinha como objetivo ser uma música que assusta. A questão do diabo, numa sociedade muito religiosa, era, evidentemente, um artifício de questionamento para provocar medo nas pessoas", sublinha.

O curador destaca a vocação política do metal. "Acho que o metal também tem a virtude política de colocar um certo número de culturas específicas no mapa mundial. Na Mongólia, por exemplo, há um grupo chamado The Hu, que incorpora o campo diatônico em sua música metal, usando instrumentos tradicionais. E aí está esse gênero musical, construindo todo um mundo imaginário que, obviamente, tem uma vocação estética muito importante, mas também uma vocação política para defender uma cultura e existir no mundo da música popular que é referência mundial", afirma Garcin.

Sepultura e a cena metal no Brasil

"O Sepultura é um excelente exemplo. Além disso, Max Cavalera teve a extrema gentileza de nos emprestar uma guitarra para a exposição. E ele teve também essa intuição de se adaptar a diferentes subgêneros da música metal ao longo do tempo; ele começou no trash metal com o Sepultura, mas também fez bastante New Metal, esse novo subgênero que surgiu no final dos anos 80, início dos anos 90, com sua segunda banda, Soul Fly", sublinha Garcin.

"Ele teve essa intuição de fazer durar essa música brasileira, mas ao mesmo tempo, integrando-a com um certo número de códigos... Sabemos, por exemplo, de seu amor pela seleção brasileira de futebol. Portanto, há toda essa cultura de música de estádio que interage com o futebol, o que obviamente é muito simbólico para o Brasil, pelo menos em uma escala internacional", reconhece.

"O Sepultura teve a incrível intuição de colaborar com os povos indígenas no Brasil. Pediram a eles que colaborassem no disco musicalmente, em várias faixas. O título que é obviamente baseado nesse momento é Root Bloody Roots. Então, claro, a questão das raízes do grupo é muito importante", lembra.

"E também foi um desafio para eles, eu acho, conseguir identificá-las, essas raízes, no contexto de uma música popular que é capaz de falar com todos no planeta. Essa foi uma aposta incrível. E aqui temos essa capacidade de espalhar essa música tradicional brasileira pelo mundo, como a Bossa Nova fez, e como outras formas de música mais tradicionais fizeram", diz o curador.

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