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Cidade Tiuna: militantes de reduto chavista em Caracas monitoram voto de 15 mil eleitores

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Estrategicamente localizado, o busto do ex-presidente Hugo Chávez evidencia que a Cidade Tiuna é um território socialista com regras próprias e estrutura comunitária. Este conjunto residencial ao lado do principal forte de Caracas é o endereço de mais de 20 mil pessoas – a maioria chavistas. Às vésperas de uma crucial eleição, líderes locais buscam somar votos para que Nicolás Maduro possa continuar na presidência da Venezuela até 2030.

Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Leonardo Granados mora há dez anos na Cidade Tiuna, complexo criado pela Missão Vivenda, o ousado plano anunciado por Hugo Chávez, em 2011, para extinguir o déficit habitacional do país. Em entrevista à RFI, este professor de História explica como é divido o complexo comunitário, que tem como vizinho o estratégico Forte Tiuna, o Ministério da Defesa e a Academia Militar, onde o ex-presidente foi velado em 2013.

“O condomínio é composto por vários setores. Este é o setor Simón Bolívar. (...) As pessoas (que moram aqui) o dividiram conforme quem o construiu. Este foi feito por construtoras chinesas. Então, todo mundo chama este setor de chinês", conta Granados. O venezuelano acrescenta que na área onde estão Las Mayas, um bairro popular da capital, há um setor erguido por uma construtora bielorrussa e outras empresas russas, o que faz com que aquelas unidades habitacionais sejam conhecidas como "os russos e os bielorrussos”.

Neste amplo complexo residencial, até 2015 foram construídos cerca de 6.400 apartamentos. Outros prédios ainda estão inacabados, aguardando investimentos estatais. Os primeiros moradores pagaram a moradia em bolívares, em parcelas acessíveis. Segundo Granados, hoje um apartamento de três dormitórios na Cidade Tiuna pode custar até US$ 25 mil, ou seja, são necessários mais de sete mil salários mínimos venezuelanos para comprar uma unidade.

Às vésperas da eleição mais importante da história recente do país, na Cidade Tiuna quase não se vê propaganda política. Apenas um toldo com galhardetes de Nicolás Maduro aparece na avenida principal. Pelo complexo residencial circula uma linha exclusiva de ônibus que exibe a a imagem do Super Bigode – personagem que representa o atual presidente como um super-herói de ficção. Durante meses, os moradores penaram sem transporte público até a instalação desta linha própria.

Há poucas referências visíveis a temas políticos. Porém, pelo menos 80% dos moradores da Cidade Tiuna são chavistas.

Cidadela chavista

Lorenzo Ribas, morador do complexo, é um líder comunitário afiliado ao Partido Socialista Unido da Venezuela. Ele explica como o PSUV, fundado por Chávez em 2007, está espalhado pelo país e pela cidadela.

“O Partido Socialista Unido da Venezuela está presente em todas as comunidades, em todos os centros de votação e estará presente em todas as mesas como testemunha. Completamos agora todo o cenário eleitoral. Fizemos as previsões, cuidamos da logística e dos aspectos humanos. Acho que temos muita vantagem eleitoral”, diz o militante.

Lorenzo se refere à estrutura estabelecida pelo partido para as eleições deste domingo. Na Cidade Tiuna, inspirados em estruturas comunitárias socialistas, cada setor e torre (edifício) estão organizados para seguir uma orientação determinada pelo partido.

Agusmervis Castillo, moradora no complexo, é membro do PSUV e atua como chefe da Unidade de Batalha Bolívar Chávez (UBCH) em um dos colégios eleitorais da Cidade Tiuna. “A UBCH dirige a seção eleitoral, procura testemunhas e mesários, proporciona a logística, e trabalha a estrutura com a sua equipe, com os líderes comunitários e de rua. Além disso, fazemos atividades ao longo do ano”, explica.

Pirâmide eleitoral

Embora as últimas pesquisas de intenção de voto apontem o diplomata e líder da oposição Edmundo González Urrutia como o favorito para assumir o Palácio do Miraflores em janeiro de 2025, o PSUV conta com um esquema piramidal chamado de "1 por 10", em que cada eleitor deve trazer outros dez para votar no candidato governista e assim por diante. "Nos quatro centros eleitorais que temos aqui e mais dois novos que abriram, temos 15 mil eleitores”, afirma Agusmervis.

Por meio dessa estrutura, o PSUV busca emplacar o maior número de votantes na eleição que vai mudar o país. A militante chavista deu outros detalhes sobre o esquema previsto para o dia da votação: “A autoridade única que está aqui, que é um militar, um general, empresta dois ônibus para transporte até centros de votação distantes daqui. Eles levam e trazem (eleitores) dos centros”.

Voto controlado

Com essa organização, Agusmervis estima que cerca de três mil residentes da Cidade Tiuna serão transportados para outros centros de votação em Caracas. Há também uma lista com o nome dos moradores usada no dia da eleição para registrar os votantes e os que decidiram não votar. Agusmervis e Lorenzo afirmam que respeitam a decisão dos que preferem não votar e também a dos cerca de 20% de opositores que vivem na Cidade Tiuna.

“Nós funcionamos por estrutura. Por exemplo, cada torre (edifício) tem um chefe e ele monitora toda pessoa que vai sair (para votar) ou já votou. Temos um ponto onde eles passam e se registram. É como uma checagem. É a checagem do 1 por 10 que nós fazemos”, detalha Agusmervis.

Homenagens à revolução

De acordo com os entrevistados, durante o ano, seja ou não período eleitoral, há atividades organizadas para todas as idades. As crianças participam das chamadas "colmeias", enquanto adultos e pessoas da terceira idade podem fazer cursos, entre outras propostas, de acordo com o programa aplicado pela comuna.

O funcionamento da Cidade Tiuna foi pensado para a construção e manutenção da identidade socialista, por meio da ação dos chamados conselhos comunitários. Cada edifício faz referência a Hugo Chávez ou à revolução à sua maneira, segundo relato da militante Agusmervis.

“Essas três torres formam um conselho comunal que se chama 28 de julho. Esse nome foi adotado pela comunidade, pelo chefe da comunidade e chefes de cada torre. Em homenagem ao comandante (Hugo Chávez) que aniversariava no dia 28 de julho. Os nomes são muito bonitos. O setor deles se chama Gigantes da Pátria, composto por seis torres. O setor J se chama Patriotas de Bolívar. Onde ele mora se chama Cidade Socialista de Tiuna. Há uma torre que se chama Sonhos de Chávez. Outra, Marcas do Comandante, Herdeiros de Chávez. E de onde viemos se chama Orvalhos da Revolução.”

Guerra civil

Questionado sobre a possibilidade de que Nicolás Maduro, no poder desde 2013, venha a perder a eleição, Lorenzo não descarta um conflito civil entre os venezuelanos e a ação dos demais poderes do Estado diante de um presidente opositor.

“Caso isso aconteça, estamos preparados para as consequências que virão, porque isso terá consequências graves. Não só a questão de uma possível guerra civil, mas pela pretensão de acabar com o estado bolivariano, acabar com a Constituição, acabar com os cinco poderes do Estado, desconhecer os outros quatro poderes. Se eles (opositores) chegarem à presidência, terão que enfrentar um poder eleitoral e um poder judicial que vai se opor a tudo que vai contra a Constituição. Eles vão ter uma Assembleia Nacional que também vai se opor a qualquer loucura que vá contra a Constituição”, diz o militante chavista.

Desafio econômico

Na Cidade Tiuna, a maioria dos moradores aposta na reeleição de Maduro. Caso ganhe, o presidente, que está há onze anos no poder, comandaria o país até 2030. No entanto, a economia ainda é o calcanhar de Aquiles do chavismo. O custo de vida no país é bastante alto. Atualmente, são necessários cerca de 170 salários mínimos em bolívares para a compra de uma cesta básica. Os entrevistados concordam que a economia precisa melhorar ou será difícil Maduro se manter no poder, se vier a ser reeleito.

“Eu acho que o principal aspecto que devemos abordar como revolução nos próximos anos tem que ser recuperar o salário, recuperar as reivindicações trabalhistas, as contratações coletivas. Mas se a médio prazo o tema salarial não for resolvido, acho que vamos ter muita dificuldade para nos manter no poder”, prevê o líder comunitário Lorenzo Ribas.

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Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Leonardo Granados mora há dez anos na Cidade Tiuna, complexo criado pela Missão Vivenda, o ousado plano anunciado por Hugo Chávez, em 2011, para extinguir o déficit habitacional do país. Em entrevista à RFI, este professor de História explica como é divido o complexo comunitário, que tem como vizinho o estratégico Forte Tiuna, o Ministério da Defesa e a Academia Militar, onde o ex-presidente foi velado em 2013.

“O condomínio é composto por vários setores. Este é o setor Simón Bolívar. (...) As pessoas (que moram aqui) o dividiram conforme quem o construiu. Este foi feito por construtoras chinesas. Então, todo mundo chama este setor de chinês", conta Granados. O venezuelano acrescenta que na área onde estão Las Mayas, um bairro popular da capital, há um setor erguido por uma construtora bielorrussa e outras empresas russas, o que faz com que aquelas unidades habitacionais sejam conhecidas como "os russos e os bielorrussos”.

Neste amplo complexo residencial, até 2015 foram construídos cerca de 6.400 apartamentos. Outros prédios ainda estão inacabados, aguardando investimentos estatais. Os primeiros moradores pagaram a moradia em bolívares, em parcelas acessíveis. Segundo Granados, hoje um apartamento de três dormitórios na Cidade Tiuna pode custar até US$ 25 mil, ou seja, são necessários mais de sete mil salários mínimos venezuelanos para comprar uma unidade.

Às vésperas da eleição mais importante da história recente do país, na Cidade Tiuna quase não se vê propaganda política. Apenas um toldo com galhardetes de Nicolás Maduro aparece na avenida principal. Pelo complexo residencial circula uma linha exclusiva de ônibus que exibe a a imagem do Super Bigode – personagem que representa o atual presidente como um super-herói de ficção. Durante meses, os moradores penaram sem transporte público até a instalação desta linha própria.

Há poucas referências visíveis a temas políticos. Porém, pelo menos 80% dos moradores da Cidade Tiuna são chavistas.

Cidadela chavista

Lorenzo Ribas, morador do complexo, é um líder comunitário afiliado ao Partido Socialista Unido da Venezuela. Ele explica como o PSUV, fundado por Chávez em 2007, está espalhado pelo país e pela cidadela.

“O Partido Socialista Unido da Venezuela está presente em todas as comunidades, em todos os centros de votação e estará presente em todas as mesas como testemunha. Completamos agora todo o cenário eleitoral. Fizemos as previsões, cuidamos da logística e dos aspectos humanos. Acho que temos muita vantagem eleitoral”, diz o militante.

Lorenzo se refere à estrutura estabelecida pelo partido para as eleições deste domingo. Na Cidade Tiuna, inspirados em estruturas comunitárias socialistas, cada setor e torre (edifício) estão organizados para seguir uma orientação determinada pelo partido.

Agusmervis Castillo, moradora no complexo, é membro do PSUV e atua como chefe da Unidade de Batalha Bolívar Chávez (UBCH) em um dos colégios eleitorais da Cidade Tiuna. “A UBCH dirige a seção eleitoral, procura testemunhas e mesários, proporciona a logística, e trabalha a estrutura com a sua equipe, com os líderes comunitários e de rua. Além disso, fazemos atividades ao longo do ano”, explica.

Pirâmide eleitoral

Embora as últimas pesquisas de intenção de voto apontem o diplomata e líder da oposição Edmundo González Urrutia como o favorito para assumir o Palácio do Miraflores em janeiro de 2025, o PSUV conta com um esquema piramidal chamado de "1 por 10", em que cada eleitor deve trazer outros dez para votar no candidato governista e assim por diante. "Nos quatro centros eleitorais que temos aqui e mais dois novos que abriram, temos 15 mil eleitores”, afirma Agusmervis.

Por meio dessa estrutura, o PSUV busca emplacar o maior número de votantes na eleição que vai mudar o país. A militante chavista deu outros detalhes sobre o esquema previsto para o dia da votação: “A autoridade única que está aqui, que é um militar, um general, empresta dois ônibus para transporte até centros de votação distantes daqui. Eles levam e trazem (eleitores) dos centros”.

Voto controlado

Com essa organização, Agusmervis estima que cerca de três mil residentes da Cidade Tiuna serão transportados para outros centros de votação em Caracas. Há também uma lista com o nome dos moradores usada no dia da eleição para registrar os votantes e os que decidiram não votar. Agusmervis e Lorenzo afirmam que respeitam a decisão dos que preferem não votar e também a dos cerca de 20% de opositores que vivem na Cidade Tiuna.

“Nós funcionamos por estrutura. Por exemplo, cada torre (edifício) tem um chefe e ele monitora toda pessoa que vai sair (para votar) ou já votou. Temos um ponto onde eles passam e se registram. É como uma checagem. É a checagem do 1 por 10 que nós fazemos”, detalha Agusmervis.

Homenagens à revolução

De acordo com os entrevistados, durante o ano, seja ou não período eleitoral, há atividades organizadas para todas as idades. As crianças participam das chamadas "colmeias", enquanto adultos e pessoas da terceira idade podem fazer cursos, entre outras propostas, de acordo com o programa aplicado pela comuna.

O funcionamento da Cidade Tiuna foi pensado para a construção e manutenção da identidade socialista, por meio da ação dos chamados conselhos comunitários. Cada edifício faz referência a Hugo Chávez ou à revolução à sua maneira, segundo relato da militante Agusmervis.

“Essas três torres formam um conselho comunal que se chama 28 de julho. Esse nome foi adotado pela comunidade, pelo chefe da comunidade e chefes de cada torre. Em homenagem ao comandante (Hugo Chávez) que aniversariava no dia 28 de julho. Os nomes são muito bonitos. O setor deles se chama Gigantes da Pátria, composto por seis torres. O setor J se chama Patriotas de Bolívar. Onde ele mora se chama Cidade Socialista de Tiuna. Há uma torre que se chama Sonhos de Chávez. Outra, Marcas do Comandante, Herdeiros de Chávez. E de onde viemos se chama Orvalhos da Revolução.”

Guerra civil

Questionado sobre a possibilidade de que Nicolás Maduro, no poder desde 2013, venha a perder a eleição, Lorenzo não descarta um conflito civil entre os venezuelanos e a ação dos demais poderes do Estado diante de um presidente opositor.

“Caso isso aconteça, estamos preparados para as consequências que virão, porque isso terá consequências graves. Não só a questão de uma possível guerra civil, mas pela pretensão de acabar com o estado bolivariano, acabar com a Constituição, acabar com os cinco poderes do Estado, desconhecer os outros quatro poderes. Se eles (opositores) chegarem à presidência, terão que enfrentar um poder eleitoral e um poder judicial que vai se opor a tudo que vai contra a Constituição. Eles vão ter uma Assembleia Nacional que também vai se opor a qualquer loucura que vá contra a Constituição”, diz o militante chavista.

Desafio econômico

Na Cidade Tiuna, a maioria dos moradores aposta na reeleição de Maduro. Caso ganhe, o presidente, que está há onze anos no poder, comandaria o país até 2030. No entanto, a economia ainda é o calcanhar de Aquiles do chavismo. O custo de vida no país é bastante alto. Atualmente, são necessários cerca de 170 salários mínimos em bolívares para a compra de uma cesta básica. Os entrevistados concordam que a economia precisa melhorar ou será difícil Maduro se manter no poder, se vier a ser reeleito.

“Eu acho que o principal aspecto que devemos abordar como revolução nos próximos anos tem que ser recuperar o salário, recuperar as reivindicações trabalhistas, as contratações coletivas. Mas se a médio prazo o tema salarial não for resolvido, acho que vamos ter muita dificuldade para nos manter no poder”, prevê o líder comunitário Lorenzo Ribas.

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