Artwork

Content provided by France Médias Monde and RFI Brasil. All podcast content including episodes, graphics, and podcast descriptions are uploaded and provided directly by France Médias Monde and RFI Brasil or their podcast platform partner. If you believe someone is using your copyrighted work without your permission, you can follow the process outlined here https://player.fm/legal.
Player FM - Podcast App
Go offline with the Player FM app!

Os desafios das agências humanitárias no trabalho de ajuda ao Rio Grande do Sul

8:00
 
Share
 

Manage episode 419077946 series 1008085
Content provided by France Médias Monde and RFI Brasil. All podcast content including episodes, graphics, and podcast descriptions are uploaded and provided directly by France Médias Monde and RFI Brasil or their podcast platform partner. If you believe someone is using your copyrighted work without your permission, you can follow the process outlined here https://player.fm/legal.

Enchentes históricas, consequências sem precedentes. Os relatórios feitos sobre a situação das inundações no Rio Grande do Sul testemunham uma das maiores crises de desalojados internos em todo o mundo. Várias organizações internacionais com experiência em emergências humanitárias estão no Sul do Brasil para ajudar a traçar soluções no planejamento e gestão da catástrofe. A RFI conversou com algumas das que estão atualmente no terreno.

Maria Paula Carvalho, da RFI Brasil em Paris

Os números mais atualizados da Defesa Civil estadual apontam 461 municípios atingidos pelas chuvas que deixaram, em poucos dias, 540.192 desalojados no Rio Grande do Sul. De acordo com o último relatório anual do IDMC (Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos), com sede em Genebra, na Suíça, o atual balanço representa hoje três quartos de todos os deslocados por causa de desastres climáticos no Brasil no ano de 2023 (745.000).

“Tenho muitos anos de experiência, eu estive no Haiti, no Equador, em terremotos, recentemente na Turquia, e esta é uma emergência grande e complicada pela extensão do país. Obviamente é um país muito solidário, mas as extensões de terra aqui são muito grandes. Então, o envio de ajuda humanitária às zonas afetadas é medido em muitos quilômetros e muitas horas,” explica Marco Franco, chefe de operações da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) no Brasil.

Ele ressalta que a emergência no RS afeta mais de 2 milhões de pessoas, o que equivale a aproximadamente metade da população do Panamá, que tem 5 milhões, compara. “A chuva não para, continua chovendo e isso dificulta muito. Caíram árvores, pontes e isso dificulta que a ajuda chegue rapidamente", salienta Franco, lembrando que, em poucos dias, choveu 300 milímetros, o que seria esperado para o período de uma semana.

O chefe de operações da FICV dá o exemplo do trajeto entre Caxias do Sul e Porto Alegre, normalmente feito em três ou quatro horas, mas que agora está levando 17 horas. “Devemos considerar que, nas próximas semanas, também pode haver proliferação de mosquitos e um aumento dos casos de dengue nas zonas afetadas por causa de tanta água”, alerta.

A Federação Internacional da Cruz Vermelha, considerada a maior organização humanitária do mundo, lançou um apelo de emergência de 8 milhões de francos suíços, o equivalente a mais de R$ 45 milhões, para fortalecer a assistência humanitária às comunidades afetadas pelas inundações no Rio Grande do Sul.

Seus voluntários, treinados para atender este tipo de emergência, têm prestado os primeiros socorros, cuidados de saúde e apoio psicológico à população afetada, além de organizar centros de coleta de mantimentos em Caxias do Sul e Porto Alegre.

Nos albergues, há aproximadamente 80 mil pessoas, entre as quais famílias grandes com crianças e idosos, relata. "Uma preocupação a mais é a queda na temperatura. Atualmente, faz entre 7°C e 10°C, o que significa que além de refúgio, elas precisam de agasalhos”, alerta Marco Franco.

A OIM, Agência da ONU para as Migrações, também está trabalhando em conjunto com os governos no sul do Brasil, fornecendo apoio técnico para a gestão dos abrigos. A OIM destaca à RFI a importância de incluir as discussões sobre mudanças do clima, nas considerações sobre a mobilidade humana.

A centenária ONG britânica Save the Children é outra organização com atuação no Brasil e que enviou dois representantes para São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre. Com um orçamento inicial que ultrapassa os US$ 100 mil (cerca de R$ 512 mil) para esta emergência, a organização trabalha com parceiros locais na distribuição de 1.000 kits de comida por dia aos necessitados.

“O Brasil tem uma capacidade e uma funcionalidade, uma coordenação muito bem estruturada. As organizações internacionais registradas no país atuam como organizações locais e todos os trâmites são feitos com os parceiros locais, com as capacidades locais, pois eles têm conhecimento do contexto e necessidades, além do idioma", explica Alessandro Tuzza, diretor da Save the Children Brasil.

“Pelo que vimos, é importante citar o compromisso da população na resposta, no voluntariado. Pela primeira vez, vejo uma atenção tão integral por parte de toda a população”, destaca.

Ele sublinha que um número elevado de vítimas perdeu tudo: desde os bens materiais até "a dinâmica familiar, o contato com os amigos da escola, o sistema de ensino". A maioria das escolas nas áreas afetadas continuam fechadas. "Queremos assegurar que o retorno à normalidade seja um novo começo, com uma nova perspectiva”, completa.

Impacto nas crianças

O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que atua no Brasil há mais de 70 anos, também correu para assistir o extremo sul do Brasil, explica o escritório brasileiro da organização. Tradicionalmente, a instituição opera nas regiões Norte e Nordeste, onde há maior concentração de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Considerada uma das maiores agências especializadas das Nações Unidas, o Unicef fornece recursos humanitários e técnicos para auxiliar programas governamentais em diversos níveis da administração. Desde que as chuvas começaram a provocar vítimas no Rio Grande do Sul, três profissionais foram enviados a campo, convocados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e dos Direitos Humanos e Cidadania.

“Já fizemos um primeiro mapeamento e agora estamos começando a trabalhar justamente no desenvolvimento de protocolos de atenção técnica para a gente assegurar que crianças e adolescentes abrigados tenham uma atenção focada nas necessidades dos meninos e meninas que estão sendo impactados por essa tragédia”, disse Denise Stuckenbruck, representante adjunta interina do Unicef Brasil, em entrevista à RFI.

Ela indica que organização distribui kits, chamados de "kits de aprender e brincar", composto por jogos educativos e guias para atividades lúdicas e educativas, a serem usados nos abrigos. "Para que crianças que estão abrigadas possam contar com atividades organizadas com recursos próprios para tentar mitigar o impacto negativo da vida delas nos abrigos”, acrescenta.

O Unicef calcula que atualmente 15.000 crianças e adolescentes estão em 700 abrigos gaúchos, entre elas 1.900 menores de 5 anos. Um dos trabalhos consiste em ajudar para reunificar as crianças e adolescentes separados de suas famílias. "Isso tem que ser feito de maneira profissional, para prevenir uma situação mais crítica, que pode levar a mais abusos. O impacto socioemocional e de saúde mental é muito forte e o trauma que pode permanecer na vida dessas crianças é muito profundo”, destaca Stuckenbruck.

Para desenvolver esse trabalho, o Unicef conta com a solidariedade dos brasileiros. “Nós estamos operando com recursos generosamente doados para a nossa resposta no Brasil. Nós temos, assim, o benefício de contar com a generosidade e a confiança da população brasileira”, reconhece.

A representante destaca ainda que as ações no Brasil estão coordenadas, entre as três esferas de governo e a sociedade civil. A falta de recursos para enfrentar a tragédia, afirma, não é o principal problema neste momento. "Ainda não consideramos a necessidade de fazer um apelo de mobilização de recursos internacional, até porque isso ainda não nos foi solicitado pelo governo brasileiro”, sublinha.

Princípios humanitários

A gaúcha e humanitária internacional Fernanda Baumhardt, que trabalhou com agências especializadas da ONU na resposta às inundações no Peru e no terremoto do Equador, entre outras emergências no mundo, relembra da importância de uma atuação com base nos princípios humanitários: neutralidade, imparcialidade, humanidade e independência.

"As agências humanitárias devem ser puramente técnicas e apolíticas. O nosso lado deve ser sempre e apenas o lado das pessoas afetadas e em sofrimento. Isso significa que, na prática, ao coordenar com as diferentes instâncias do governo, precisa-se manter o foco e ecoar as vozes dos necessitados, construir pontes com as diferentes autoridades, sendo porta-vozes da realidade e prioridades do terreno, que é dinâmico", aponta. "Esta escuta precisa ser ativa, constante e humana”, apela Baumhardt.

  continue reading

25 episodes

Artwork
iconShare
 
Manage episode 419077946 series 1008085
Content provided by France Médias Monde and RFI Brasil. All podcast content including episodes, graphics, and podcast descriptions are uploaded and provided directly by France Médias Monde and RFI Brasil or their podcast platform partner. If you believe someone is using your copyrighted work without your permission, you can follow the process outlined here https://player.fm/legal.

Enchentes históricas, consequências sem precedentes. Os relatórios feitos sobre a situação das inundações no Rio Grande do Sul testemunham uma das maiores crises de desalojados internos em todo o mundo. Várias organizações internacionais com experiência em emergências humanitárias estão no Sul do Brasil para ajudar a traçar soluções no planejamento e gestão da catástrofe. A RFI conversou com algumas das que estão atualmente no terreno.

Maria Paula Carvalho, da RFI Brasil em Paris

Os números mais atualizados da Defesa Civil estadual apontam 461 municípios atingidos pelas chuvas que deixaram, em poucos dias, 540.192 desalojados no Rio Grande do Sul. De acordo com o último relatório anual do IDMC (Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos), com sede em Genebra, na Suíça, o atual balanço representa hoje três quartos de todos os deslocados por causa de desastres climáticos no Brasil no ano de 2023 (745.000).

“Tenho muitos anos de experiência, eu estive no Haiti, no Equador, em terremotos, recentemente na Turquia, e esta é uma emergência grande e complicada pela extensão do país. Obviamente é um país muito solidário, mas as extensões de terra aqui são muito grandes. Então, o envio de ajuda humanitária às zonas afetadas é medido em muitos quilômetros e muitas horas,” explica Marco Franco, chefe de operações da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) no Brasil.

Ele ressalta que a emergência no RS afeta mais de 2 milhões de pessoas, o que equivale a aproximadamente metade da população do Panamá, que tem 5 milhões, compara. “A chuva não para, continua chovendo e isso dificulta muito. Caíram árvores, pontes e isso dificulta que a ajuda chegue rapidamente", salienta Franco, lembrando que, em poucos dias, choveu 300 milímetros, o que seria esperado para o período de uma semana.

O chefe de operações da FICV dá o exemplo do trajeto entre Caxias do Sul e Porto Alegre, normalmente feito em três ou quatro horas, mas que agora está levando 17 horas. “Devemos considerar que, nas próximas semanas, também pode haver proliferação de mosquitos e um aumento dos casos de dengue nas zonas afetadas por causa de tanta água”, alerta.

A Federação Internacional da Cruz Vermelha, considerada a maior organização humanitária do mundo, lançou um apelo de emergência de 8 milhões de francos suíços, o equivalente a mais de R$ 45 milhões, para fortalecer a assistência humanitária às comunidades afetadas pelas inundações no Rio Grande do Sul.

Seus voluntários, treinados para atender este tipo de emergência, têm prestado os primeiros socorros, cuidados de saúde e apoio psicológico à população afetada, além de organizar centros de coleta de mantimentos em Caxias do Sul e Porto Alegre.

Nos albergues, há aproximadamente 80 mil pessoas, entre as quais famílias grandes com crianças e idosos, relata. "Uma preocupação a mais é a queda na temperatura. Atualmente, faz entre 7°C e 10°C, o que significa que além de refúgio, elas precisam de agasalhos”, alerta Marco Franco.

A OIM, Agência da ONU para as Migrações, também está trabalhando em conjunto com os governos no sul do Brasil, fornecendo apoio técnico para a gestão dos abrigos. A OIM destaca à RFI a importância de incluir as discussões sobre mudanças do clima, nas considerações sobre a mobilidade humana.

A centenária ONG britânica Save the Children é outra organização com atuação no Brasil e que enviou dois representantes para São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre. Com um orçamento inicial que ultrapassa os US$ 100 mil (cerca de R$ 512 mil) para esta emergência, a organização trabalha com parceiros locais na distribuição de 1.000 kits de comida por dia aos necessitados.

“O Brasil tem uma capacidade e uma funcionalidade, uma coordenação muito bem estruturada. As organizações internacionais registradas no país atuam como organizações locais e todos os trâmites são feitos com os parceiros locais, com as capacidades locais, pois eles têm conhecimento do contexto e necessidades, além do idioma", explica Alessandro Tuzza, diretor da Save the Children Brasil.

“Pelo que vimos, é importante citar o compromisso da população na resposta, no voluntariado. Pela primeira vez, vejo uma atenção tão integral por parte de toda a população”, destaca.

Ele sublinha que um número elevado de vítimas perdeu tudo: desde os bens materiais até "a dinâmica familiar, o contato com os amigos da escola, o sistema de ensino". A maioria das escolas nas áreas afetadas continuam fechadas. "Queremos assegurar que o retorno à normalidade seja um novo começo, com uma nova perspectiva”, completa.

Impacto nas crianças

O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que atua no Brasil há mais de 70 anos, também correu para assistir o extremo sul do Brasil, explica o escritório brasileiro da organização. Tradicionalmente, a instituição opera nas regiões Norte e Nordeste, onde há maior concentração de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Considerada uma das maiores agências especializadas das Nações Unidas, o Unicef fornece recursos humanitários e técnicos para auxiliar programas governamentais em diversos níveis da administração. Desde que as chuvas começaram a provocar vítimas no Rio Grande do Sul, três profissionais foram enviados a campo, convocados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e dos Direitos Humanos e Cidadania.

“Já fizemos um primeiro mapeamento e agora estamos começando a trabalhar justamente no desenvolvimento de protocolos de atenção técnica para a gente assegurar que crianças e adolescentes abrigados tenham uma atenção focada nas necessidades dos meninos e meninas que estão sendo impactados por essa tragédia”, disse Denise Stuckenbruck, representante adjunta interina do Unicef Brasil, em entrevista à RFI.

Ela indica que organização distribui kits, chamados de "kits de aprender e brincar", composto por jogos educativos e guias para atividades lúdicas e educativas, a serem usados nos abrigos. "Para que crianças que estão abrigadas possam contar com atividades organizadas com recursos próprios para tentar mitigar o impacto negativo da vida delas nos abrigos”, acrescenta.

O Unicef calcula que atualmente 15.000 crianças e adolescentes estão em 700 abrigos gaúchos, entre elas 1.900 menores de 5 anos. Um dos trabalhos consiste em ajudar para reunificar as crianças e adolescentes separados de suas famílias. "Isso tem que ser feito de maneira profissional, para prevenir uma situação mais crítica, que pode levar a mais abusos. O impacto socioemocional e de saúde mental é muito forte e o trauma que pode permanecer na vida dessas crianças é muito profundo”, destaca Stuckenbruck.

Para desenvolver esse trabalho, o Unicef conta com a solidariedade dos brasileiros. “Nós estamos operando com recursos generosamente doados para a nossa resposta no Brasil. Nós temos, assim, o benefício de contar com a generosidade e a confiança da população brasileira”, reconhece.

A representante destaca ainda que as ações no Brasil estão coordenadas, entre as três esferas de governo e a sociedade civil. A falta de recursos para enfrentar a tragédia, afirma, não é o principal problema neste momento. "Ainda não consideramos a necessidade de fazer um apelo de mobilização de recursos internacional, até porque isso ainda não nos foi solicitado pelo governo brasileiro”, sublinha.

Princípios humanitários

A gaúcha e humanitária internacional Fernanda Baumhardt, que trabalhou com agências especializadas da ONU na resposta às inundações no Peru e no terremoto do Equador, entre outras emergências no mundo, relembra da importância de uma atuação com base nos princípios humanitários: neutralidade, imparcialidade, humanidade e independência.

"As agências humanitárias devem ser puramente técnicas e apolíticas. O nosso lado deve ser sempre e apenas o lado das pessoas afetadas e em sofrimento. Isso significa que, na prática, ao coordenar com as diferentes instâncias do governo, precisa-se manter o foco e ecoar as vozes dos necessitados, construir pontes com as diferentes autoridades, sendo porta-vozes da realidade e prioridades do terreno, que é dinâmico", aponta. "Esta escuta precisa ser ativa, constante e humana”, apela Baumhardt.

  continue reading

25 episodes

All episodes

×
 
Loading …

Welcome to Player FM!

Player FM is scanning the web for high-quality podcasts for you to enjoy right now. It's the best podcast app and works on Android, iPhone, and the web. Signup to sync subscriptions across devices.

 

Quick Reference Guide