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Carla Madeira leva best-sellers à Suíça e fala da finalização do quarto livro

28:02
 
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Carla Madeira foi a escritora mais vendida do Brasil em 2023, na categoria ficção, com Tudo É Rio. Ela está na Suíça para participar do Salão do Livro de Genebra.

Valéria Maniero, correspondente da RFI Brasil em Genebra (Suíça)

No Dia Internacional da Mulher, ela recebeu a RFI para uma conversa em um restaurante da cidade, antes de uma sessão de autógrafos no estande da editora e livraria Helvetia. Carla falou falou sobre questões ligadas às mulheres, à literatura, ao Brasil e à finalização de seu quarto romance.

Além de autora de três livros que se tornaram best-sellers no Brasil, Carla é publicitária, sócia de uma agência em Belo Horizonte, mãe de dois filhos e madrasta de três. Carla é muita coisa e faz muita coisa: também compõe, canta, toca, pinta quadros.

"Eu acho que tem um lado muito forte meu é que todas essas coisas que eu faço – escrever, pintar, essas coisas ligadas a linguagens – são muito prazerosas. Então, não vejo como uma tarefa, um trabalho. Sempre dou um jeito de estar perto disso porque são coisas que me descansam”, explica.

Consciência da luta das mulheres por seu espaço

Neste Dia Internacional da Mulher, ela conta que nunca pensou que não podia fazer algo por ser mulher. Montou a agência quando tinha apenas 21 anos, em um ambiente dominado pelos homens.

"Eu acessava todas as minhas possibilidades ali no trabalho, de crescimento, de me impor no mercado e, se os homens estavam contrariados com isso, eu nem notei. Eu realmente não me deixei paralisar ou muitas vezes nem percebi que estava incomodando”, lembra. "A ponto de uma pessoa que trabalha comigo um dia me falar: 'tenha sempre consciência do seu privilégio. É uma exceção, pra você não achar que está todo mundo nesse lugar e pra você contribuir com essa luta'. Então, foi uma tomada de consciência: eu achava que não tinha barreira.”

Impulsionada por esta determinação até hoje, ela incita as mulheres a "serem aquilo que ainda não são”. “Façam”, diz. “Eu sei que tem as barreiras, as dificuldades, mas é isso: decida fazer. Vamos buscar o caminho.”

A escritora também não deixa de lembrar as violências de que milhares de mulheres são vítimas todos os dias. "Deveria ser mais rápido, porque a cada morte, a cada violência, a gente sente que a urgência dessas coisas mudarem é muito grande. Falta muito e tinha que ser mais rápido”, salienta.

"No entanto, eu sou uma pessoa que acredita que já existe um ponto de irreversibilidade nisso. É claro que a gente fica assustada quando vê esse crescimento da extrema direita, do conservadorismo, todas essas coisas assustam e a gente fala: não tem nada garantido. Mas tem uma consciência ampliada, você pode até ter mecanismos externos para oprimir isso, mas você não destrói isso. A gente não 'desvê' o que a gente viu”, analisa.

Personagens 'de carne e osso'

Quanto aos seus livros, Carla diz que os leitores percebem que suas personagens não são só boas ou más, mas são pessoas reais, "de carne e osso". Essa característica, avalia, gera empatia. Os livros da Carla não são fáceis, mas muitos leitores dizem que é impossível parar de lê-los.

"Todos nós temos essas potências de bem e de mal e a gente vive equilibrando essas forças dentro da gente. Esse é o grande exercício da vida: você passar por todas as circunstâncias que a gente passa, ver tudo o que a gente vê, lidar com toda a imprevisibilidade, todas as dores, toda a falta de controle que a gente tem sobre a vida. Eu acho que a gente vai chegando nessa essência do humano”, disse.

Ela então remonta à infância para explicar como chega às históricas que conta em suas obras. "Eu já tinha um desejo enorme de escutar essa voz interna, imaginar coisas. Sempre fui uma pessoa de muita imaginação e de necessidade de uma certa solidão, desse espaço de ficar sozinha pra poder imaginar, aprender meu instrumento, compor, pintar.”

E se “imaginar é sempre revelar um pouco de si mesma”, como ela diz, o que tem de Carla Madeira nos livros de Carla Madeira? "Tem uma coisa que atravessa, que não é propriamente da temática, mas da musicalidade, da sonoridade, essa relação com o ritmo, com a música, quase uma métrica”, responde.

“Eu venho de uma família religiosa, então acho que é uma questão que sempre me provoca grandes reflexões. Tem sempre fragmentos de coisas que eu vi, que eu vivi. Nunca é um fato específico, uma pessoa que está toda ali, mas são pedacinhos de pessoa, pedacinhos de movimento, de posicionamentos diante da vida ou de algumas questões que você vai vendo ao longo da sua vida que é a sua bagagem, a matéria-prima de todo autor, as coisas que o afetaram”, constata.

Quarto livro

A autora já disse algumas vezes que “a gente escreve sobre o que nos afeta” e que “escrever é uma maneira de encaminhar as angústias”. Para ela, “escrever é sempre um encaminhamento, uma maneira de lidar com o real”.

E é isso que está acontecendo agora, depois que Carla perdeu a sócia para um câncer fulminante. "Eu tinha me proposto a ficar um bom tempo sem escrever. Estou no meu quarto romance, queria ter esperado um pouco para poder ler, estudar, abrir a cabeça, viver, colher o material. Mas eu vivi um processo muito doloroso, ela teve um diagnóstico de câncer de pâncreas e eu fiquei impressionada”, relata.

"Teve um dia que eu cheguei do encontro com ela, abri o computador e comecei a escrever o quarto livro”, completou. "Freud fala que entre a angústia e a capacidade de simbolizar essa angústia, através da linguagem, a gente vive um estado de desamparo. Acho que a gente tem sempre essa angústia que só se encaminha quando ela encontra uma linguagem, quando ela encontra palavra. Então, sim, eu continuo.”

Esse paralelo com o real a leva a fisgar o leitor com tanta facilidade, avalia.

“Uma obra é como se, por um instante, organizasse uma coisa que está espalhada dentro da pessoa. Acho que a minha literatura tem um pouco disso: isso aqui está comigo, faz parte de uma angústia minha, como que essa pessoa está falando uma coisa que é tão minha?"

O quarto livro sairá, mais uma vez, pela editora Record. Mas ainda não tem data para a publicação. "Não terminei a história propriamente e quando eu termino a história, eu entro na parte que eu mais gosto que é começar a leitura, a releitura, lapidar, cuidar da textura, a parte que eu tenho mais alegria de fazer. Falta muito”, indica.

Encontro com leitores no exterior

Na Suíça, a autora Carla tem a chance de estar em contato com leitores que moram no exterior. “A literatura tem me dado a oportunidade de viver essas trocas, de sentir a ressonância do meu livro em uma pessoa que vive aqui, que lida com uma realidade completamente diferente da do Brasil. É muito bacana”, comenta.

Nestes dias fora do país, ela também traz um olhar “preocupado" com o Brasil.

“A gente saiu de um momento muito difícil, arriscado, um acirramento muito grande, com ameaças muito sérias à democracia, à liberdade de crença, de gênero, de escolhas”, ressalta. "Nesse momento, vejo com atenção e com um profundo desejo de que a gente consiga uma clareza maior, uma consciência maior do que a gente viveu pra que se afaste o máximo possível da possibilidade de um retorno a esse lugar em que a gente estava, muito preocupante.”

Na Suíça, um país desenvolvido, a escritora também constata todo o caminho que resta pela frente ao Brasil rumo a uma melhor educação, maior segurança e, sobretudo, redução das desigualdades.

“Se não for bom pra todo mundo, não vai ser bom. O que adianta uma minoriazinha usufruindo de tanta coisa e uma grande maioria numa situação material horrorosa, uma situação potencial horrorosa porque não pode explorar as suas capacidades”, questiona. "Eu fico torcendo muito porque eu acho que, se der certo, vai ser o melhor lugar do mundo.”

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Carla Madeira foi a escritora mais vendida do Brasil em 2023, na categoria ficção, com Tudo É Rio. Ela está na Suíça para participar do Salão do Livro de Genebra.

Valéria Maniero, correspondente da RFI Brasil em Genebra (Suíça)

No Dia Internacional da Mulher, ela recebeu a RFI para uma conversa em um restaurante da cidade, antes de uma sessão de autógrafos no estande da editora e livraria Helvetia. Carla falou falou sobre questões ligadas às mulheres, à literatura, ao Brasil e à finalização de seu quarto romance.

Além de autora de três livros que se tornaram best-sellers no Brasil, Carla é publicitária, sócia de uma agência em Belo Horizonte, mãe de dois filhos e madrasta de três. Carla é muita coisa e faz muita coisa: também compõe, canta, toca, pinta quadros.

"Eu acho que tem um lado muito forte meu é que todas essas coisas que eu faço – escrever, pintar, essas coisas ligadas a linguagens – são muito prazerosas. Então, não vejo como uma tarefa, um trabalho. Sempre dou um jeito de estar perto disso porque são coisas que me descansam”, explica.

Consciência da luta das mulheres por seu espaço

Neste Dia Internacional da Mulher, ela conta que nunca pensou que não podia fazer algo por ser mulher. Montou a agência quando tinha apenas 21 anos, em um ambiente dominado pelos homens.

"Eu acessava todas as minhas possibilidades ali no trabalho, de crescimento, de me impor no mercado e, se os homens estavam contrariados com isso, eu nem notei. Eu realmente não me deixei paralisar ou muitas vezes nem percebi que estava incomodando”, lembra. "A ponto de uma pessoa que trabalha comigo um dia me falar: 'tenha sempre consciência do seu privilégio. É uma exceção, pra você não achar que está todo mundo nesse lugar e pra você contribuir com essa luta'. Então, foi uma tomada de consciência: eu achava que não tinha barreira.”

Impulsionada por esta determinação até hoje, ela incita as mulheres a "serem aquilo que ainda não são”. “Façam”, diz. “Eu sei que tem as barreiras, as dificuldades, mas é isso: decida fazer. Vamos buscar o caminho.”

A escritora também não deixa de lembrar as violências de que milhares de mulheres são vítimas todos os dias. "Deveria ser mais rápido, porque a cada morte, a cada violência, a gente sente que a urgência dessas coisas mudarem é muito grande. Falta muito e tinha que ser mais rápido”, salienta.

"No entanto, eu sou uma pessoa que acredita que já existe um ponto de irreversibilidade nisso. É claro que a gente fica assustada quando vê esse crescimento da extrema direita, do conservadorismo, todas essas coisas assustam e a gente fala: não tem nada garantido. Mas tem uma consciência ampliada, você pode até ter mecanismos externos para oprimir isso, mas você não destrói isso. A gente não 'desvê' o que a gente viu”, analisa.

Personagens 'de carne e osso'

Quanto aos seus livros, Carla diz que os leitores percebem que suas personagens não são só boas ou más, mas são pessoas reais, "de carne e osso". Essa característica, avalia, gera empatia. Os livros da Carla não são fáceis, mas muitos leitores dizem que é impossível parar de lê-los.

"Todos nós temos essas potências de bem e de mal e a gente vive equilibrando essas forças dentro da gente. Esse é o grande exercício da vida: você passar por todas as circunstâncias que a gente passa, ver tudo o que a gente vê, lidar com toda a imprevisibilidade, todas as dores, toda a falta de controle que a gente tem sobre a vida. Eu acho que a gente vai chegando nessa essência do humano”, disse.

Ela então remonta à infância para explicar como chega às históricas que conta em suas obras. "Eu já tinha um desejo enorme de escutar essa voz interna, imaginar coisas. Sempre fui uma pessoa de muita imaginação e de necessidade de uma certa solidão, desse espaço de ficar sozinha pra poder imaginar, aprender meu instrumento, compor, pintar.”

E se “imaginar é sempre revelar um pouco de si mesma”, como ela diz, o que tem de Carla Madeira nos livros de Carla Madeira? "Tem uma coisa que atravessa, que não é propriamente da temática, mas da musicalidade, da sonoridade, essa relação com o ritmo, com a música, quase uma métrica”, responde.

“Eu venho de uma família religiosa, então acho que é uma questão que sempre me provoca grandes reflexões. Tem sempre fragmentos de coisas que eu vi, que eu vivi. Nunca é um fato específico, uma pessoa que está toda ali, mas são pedacinhos de pessoa, pedacinhos de movimento, de posicionamentos diante da vida ou de algumas questões que você vai vendo ao longo da sua vida que é a sua bagagem, a matéria-prima de todo autor, as coisas que o afetaram”, constata.

Quarto livro

A autora já disse algumas vezes que “a gente escreve sobre o que nos afeta” e que “escrever é uma maneira de encaminhar as angústias”. Para ela, “escrever é sempre um encaminhamento, uma maneira de lidar com o real”.

E é isso que está acontecendo agora, depois que Carla perdeu a sócia para um câncer fulminante. "Eu tinha me proposto a ficar um bom tempo sem escrever. Estou no meu quarto romance, queria ter esperado um pouco para poder ler, estudar, abrir a cabeça, viver, colher o material. Mas eu vivi um processo muito doloroso, ela teve um diagnóstico de câncer de pâncreas e eu fiquei impressionada”, relata.

"Teve um dia que eu cheguei do encontro com ela, abri o computador e comecei a escrever o quarto livro”, completou. "Freud fala que entre a angústia e a capacidade de simbolizar essa angústia, através da linguagem, a gente vive um estado de desamparo. Acho que a gente tem sempre essa angústia que só se encaminha quando ela encontra uma linguagem, quando ela encontra palavra. Então, sim, eu continuo.”

Esse paralelo com o real a leva a fisgar o leitor com tanta facilidade, avalia.

“Uma obra é como se, por um instante, organizasse uma coisa que está espalhada dentro da pessoa. Acho que a minha literatura tem um pouco disso: isso aqui está comigo, faz parte de uma angústia minha, como que essa pessoa está falando uma coisa que é tão minha?"

O quarto livro sairá, mais uma vez, pela editora Record. Mas ainda não tem data para a publicação. "Não terminei a história propriamente e quando eu termino a história, eu entro na parte que eu mais gosto que é começar a leitura, a releitura, lapidar, cuidar da textura, a parte que eu tenho mais alegria de fazer. Falta muito”, indica.

Encontro com leitores no exterior

Na Suíça, a autora Carla tem a chance de estar em contato com leitores que moram no exterior. “A literatura tem me dado a oportunidade de viver essas trocas, de sentir a ressonância do meu livro em uma pessoa que vive aqui, que lida com uma realidade completamente diferente da do Brasil. É muito bacana”, comenta.

Nestes dias fora do país, ela também traz um olhar “preocupado" com o Brasil.

“A gente saiu de um momento muito difícil, arriscado, um acirramento muito grande, com ameaças muito sérias à democracia, à liberdade de crença, de gênero, de escolhas”, ressalta. "Nesse momento, vejo com atenção e com um profundo desejo de que a gente consiga uma clareza maior, uma consciência maior do que a gente viveu pra que se afaste o máximo possível da possibilidade de um retorno a esse lugar em que a gente estava, muito preocupante.”

Na Suíça, um país desenvolvido, a escritora também constata todo o caminho que resta pela frente ao Brasil rumo a uma melhor educação, maior segurança e, sobretudo, redução das desigualdades.

“Se não for bom pra todo mundo, não vai ser bom. O que adianta uma minoriazinha usufruindo de tanta coisa e uma grande maioria numa situação material horrorosa, uma situação potencial horrorosa porque não pode explorar as suas capacidades”, questiona. "Eu fico torcendo muito porque eu acho que, se der certo, vai ser o melhor lugar do mundo.”

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