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Cem anos do concurso 'Melhores Artesãos da França': brasileira foi 1ª mulher a vencer na torrefação

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O concurso “Um dos Melhores Artesãos da França” festeja 100 anos em 2024. Essa prestigiada seleção premia, a cada três ou quatro anos, trabalhadoras e trabalhadores que se destacam em mais de 200 profissões do setor artesanal, comercial, de serviço ou industrial. A cafeóloga mineira Daniela Capuano, radicada em Paris, foi eleita em 2019 a melhor torrefadora da França. Em entrevista à RFI, ela relembrou essa conquista e momentos-chave de sua carreira.

Daniella Franco, da RFI

Neta de produtores de café do sul de Minas Gerais, Daniela conta que passou sua infância e adolescência na fazenda da família, "sem se interessar muito pelo processo, mas sempre por perto". Anos depois, em Belo Horizonte, estudando design gráfico, a torrefadora começou a trabalhar em uma cafeteria. A conquista do primeiro lugar em um campeonato estadual de barista foi um sinal do início de uma bela carreira.

Após alguns anos em São Paulo, onde trabalhou para o Suplicy Cafés e a Associação Brasileira de Cafés Especiais, uma conversa com um torrefador francês em uma feira da Holanda mudou os rumos da vida de Daniela. "Ele me disse que o café especial estava começando em Paris, que não havia muita competência nesta área ainda na cidade", relembra. "Coincidiu de ser o mesmo momento que minha irmã estava se mudando para Paris para estudar moda. Eu estava meio cansada de São Paulo, acabei vindo. Tem 12 anos que eu cheguei e nunca mais fui embora."

Na França, Daniela continuou atuando como barista, mas passou a se dedicar à torrefação no renomado L'Arbre à Café. Sua mudança para Estrasburgo, no nordeste da França, coincidiu com a entrada da profissão de torrefador no concurso “Um dos Melhores Artesãos da França”, suscitando "uma grande conversa na comunidade do café". Trabalhando para o Cafés Reck, seu chefe insistiu para que ela encarasse o desafio, mas Daniela resistiu no começo: "eu achava que estrangeiros não podiam competir, pensava que era um concurso para franceses".

Três meses de treinamento

No total, foram três meses de preparação para o concurso, realizado em dois dias de prova em Bordeaux, no oeste da França. "Quando você está diante do júri, você vai descobrindo no momento o que eles vão te perguntar e o que está acontecendo. A gente chegava lá e eles nos falavam: 'Estão aqui os cafés. Torra aí, faz um blend'", relembra. "O treinamento me ajudou para o concurso, mas toda a minha experiência de barista, de loja, de campeonato, e tudo o que eu fiz antes na vida, foi o que a fez a diferença", diz a mineira.

A espera pelo resultado do concurso foi longa, mas o anúncio foi emocionante, recorda. "Acabado o concurso, eles dizem que a resposta sai entre cinco e oito semanas, e você fica na expectativa", diz. "Um dia eu estava trabalhando, recebi um e-mail dos organizadores às 5h da tarde, tudo dentro daquela formalidade francesa e eu demorei para entender que tinha passado. Mas quando entendi, eu gritava tanto que meu chefe achou que eu tinha colocado fogo na torrefação", ri.

A entrega das medalhas, em uma pomposa cerimônia na universidade Sorbonne, em Paris, também está guardada na memória de Daniela: "é um conto de fadas". "Também encontramos o presidente francês, que também recebe uma medalha de melhor artesão da França, tem uma recepção no Palácio do Eliseu [sede da presidência francesa]. É meio 'Forrest Gump' a experiência toda", descreve a mineira.

Guinada na carreira

O título de melhor torrefadora da França - a única vencedora do sexo feminino na categoria - alavancou a carreira de Daniela de uma forma que nem ela mesma poderia imaginar. "É um reconhecimento profissional na França, principalmente para mim: mulher, brasileira, estrangeira", diz. "De um dia para o outro, as pessoas passam a te respeitar de uma maneira diferente. Aí a sua opinião é importante, as pessoas querem saber o que você pensa, o que você acha, como você faz", enumera.

Daniela é sócia hoje do Momus, uma cafeteria na badalada Rue de Martyrs, no 9° distrito de Paris. O estabelecimento oferece cafés especiais, originários da agricultura orgânica e durável, fabricados sob medida, conforme o gosto do cliente. A cafeóloga também trabalha com consultoria e treinamento para torrefadores.

Desde o final dos anos 2000 na estrada, Daniela tem na ponta da língua a resposta para o que considera um bom café: "é aquele que eu consigo tomar mais de uma xícara", resume. "Eu gosto de café equilibrado, moído na hora pra ter toda a riqueza de aroma e sabor. Além disso, eu gosto de saber de onde o café vem, onde foi plantado, que ele faz bem para mim como consumidora, mas que ele fez bem para todo mundo antes de mim nessa cadeia: produtor, exportador, importador, que todo mundo trabalhou direito e ganhou o que precisava ganhar para produzir um café durável, no âmbito econômico e ambiental."

Para quem está começando no ramo da torrefação, Daniela tem uma principal dica: "torrem e provem". "Não existe bom torrefador que não é bom degustador", observa. "Tem muita gente que eu vejo começando, que estuda, lê, testa, quer experimentar com outras tecnologias, escolas e approachs, mas que não prova sistematicamente tudo o que está fazendo", reitera.

A cafeóloga compreende que a rotina de prova do torrefador possa ser cansativa, mas, segundo ela, essa é a única forma para o profissional conhecer o impacto de cada escolha feita durante a torra. "É como se um chef cozinhasse um prato e não experimentasse o que ele fez", compara.

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Daniella Franco, da RFI

Neta de produtores de café do sul de Minas Gerais, Daniela conta que passou sua infância e adolescência na fazenda da família, "sem se interessar muito pelo processo, mas sempre por perto". Anos depois, em Belo Horizonte, estudando design gráfico, a torrefadora começou a trabalhar em uma cafeteria. A conquista do primeiro lugar em um campeonato estadual de barista foi um sinal do início de uma bela carreira.

Após alguns anos em São Paulo, onde trabalhou para o Suplicy Cafés e a Associação Brasileira de Cafés Especiais, uma conversa com um torrefador francês em uma feira da Holanda mudou os rumos da vida de Daniela. "Ele me disse que o café especial estava começando em Paris, que não havia muita competência nesta área ainda na cidade", relembra. "Coincidiu de ser o mesmo momento que minha irmã estava se mudando para Paris para estudar moda. Eu estava meio cansada de São Paulo, acabei vindo. Tem 12 anos que eu cheguei e nunca mais fui embora."

Na França, Daniela continuou atuando como barista, mas passou a se dedicar à torrefação no renomado L'Arbre à Café. Sua mudança para Estrasburgo, no nordeste da França, coincidiu com a entrada da profissão de torrefador no concurso “Um dos Melhores Artesãos da França”, suscitando "uma grande conversa na comunidade do café". Trabalhando para o Cafés Reck, seu chefe insistiu para que ela encarasse o desafio, mas Daniela resistiu no começo: "eu achava que estrangeiros não podiam competir, pensava que era um concurso para franceses".

Três meses de treinamento

No total, foram três meses de preparação para o concurso, realizado em dois dias de prova em Bordeaux, no oeste da França. "Quando você está diante do júri, você vai descobrindo no momento o que eles vão te perguntar e o que está acontecendo. A gente chegava lá e eles nos falavam: 'Estão aqui os cafés. Torra aí, faz um blend'", relembra. "O treinamento me ajudou para o concurso, mas toda a minha experiência de barista, de loja, de campeonato, e tudo o que eu fiz antes na vida, foi o que a fez a diferença", diz a mineira.

A espera pelo resultado do concurso foi longa, mas o anúncio foi emocionante, recorda. "Acabado o concurso, eles dizem que a resposta sai entre cinco e oito semanas, e você fica na expectativa", diz. "Um dia eu estava trabalhando, recebi um e-mail dos organizadores às 5h da tarde, tudo dentro daquela formalidade francesa e eu demorei para entender que tinha passado. Mas quando entendi, eu gritava tanto que meu chefe achou que eu tinha colocado fogo na torrefação", ri.

A entrega das medalhas, em uma pomposa cerimônia na universidade Sorbonne, em Paris, também está guardada na memória de Daniela: "é um conto de fadas". "Também encontramos o presidente francês, que também recebe uma medalha de melhor artesão da França, tem uma recepção no Palácio do Eliseu [sede da presidência francesa]. É meio 'Forrest Gump' a experiência toda", descreve a mineira.

Guinada na carreira

O título de melhor torrefadora da França - a única vencedora do sexo feminino na categoria - alavancou a carreira de Daniela de uma forma que nem ela mesma poderia imaginar. "É um reconhecimento profissional na França, principalmente para mim: mulher, brasileira, estrangeira", diz. "De um dia para o outro, as pessoas passam a te respeitar de uma maneira diferente. Aí a sua opinião é importante, as pessoas querem saber o que você pensa, o que você acha, como você faz", enumera.

Daniela é sócia hoje do Momus, uma cafeteria na badalada Rue de Martyrs, no 9° distrito de Paris. O estabelecimento oferece cafés especiais, originários da agricultura orgânica e durável, fabricados sob medida, conforme o gosto do cliente. A cafeóloga também trabalha com consultoria e treinamento para torrefadores.

Desde o final dos anos 2000 na estrada, Daniela tem na ponta da língua a resposta para o que considera um bom café: "é aquele que eu consigo tomar mais de uma xícara", resume. "Eu gosto de café equilibrado, moído na hora pra ter toda a riqueza de aroma e sabor. Além disso, eu gosto de saber de onde o café vem, onde foi plantado, que ele faz bem para mim como consumidora, mas que ele fez bem para todo mundo antes de mim nessa cadeia: produtor, exportador, importador, que todo mundo trabalhou direito e ganhou o que precisava ganhar para produzir um café durável, no âmbito econômico e ambiental."

Para quem está começando no ramo da torrefação, Daniela tem uma principal dica: "torrem e provem". "Não existe bom torrefador que não é bom degustador", observa. "Tem muita gente que eu vejo começando, que estuda, lê, testa, quer experimentar com outras tecnologias, escolas e approachs, mas que não prova sistematicamente tudo o que está fazendo", reitera.

A cafeóloga compreende que a rotina de prova do torrefador possa ser cansativa, mas, segundo ela, essa é a única forma para o profissional conhecer o impacto de cada escolha feita durante a torra. "É como se um chef cozinhasse um prato e não experimentasse o que ele fez", compara.

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