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Última livraria portuguesa e brasileira da França pode fechar as portas em Paris

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Nas prateleiras, autoras como Conceição Tavares e Djamila Ribeiro se misturam a nomes mais tradicionais como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado. Há 38 anos, a paixão de Michel Chandeigne pelo universo da língua portuguesa mantém abertas as portas azuis da tradicional Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris, em frente à pracinha de L'Estrapade, local que se tornou ponto de peregrinação de fãs da série "Emily in Paris": a protagonista "mora" na frente.

"Às vezes eu gostaria de deixar um microfone escondido aqui na frente da porta, para ouvir e gravar o que as pessoas estão dizendo, porque há uma surpresa real das pessoas que passam ao descobrir uma livraria de língua portuguesa. Também é muito divertido ouvir esses comentários", brinca Corinne Saulneron, braço direito (e esquerdo) de Michel Chandeigne na Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris. Responsável não só por acolher o público, a francesa Corinne sabe dizer em minúcias de detalhes, com uma incrível miríade de sutilezas, a diferença entre um Jorge Amado de tal época e suas versões mais atuais, o subtexto presente na ironia do baiano, ou ainda quantas vezes aquela obra específica foi republicada.

"Temos 8 mil títulos disponíveis na livraria e também tentamos dar visibilidade aos novos lançamentos brasileiros. Não estamos preocupados em ter sempre livros novos. O que gostamos mesmo é de ter livros aprofundados, livros que podemos recomendar, livros em que acreditamos e que amamos", detalha Saulneron.

"Então, tentamos seguir em frente mesmo com os problemas. E também levamos em conta nossos clientes. Temos a sorte de ter parcerias com as grandes bibliotecas, instituições que confiam em nós, como a BNF, a Biblioteca Nacional da França, que nos pede belos livros de arte do Brasil", diz. "Estamos tentando nos tornar mais visíveis gradualmente. Por isso, também gostaríamos de agradecer à [série] Emily in Paris, não é? A famosa série que tirou a Place de l'Estrapade da obscuridade e nos trouxe mais alguns clientes, e uma clientela mais jovem. Sim, temos mais jovens que estão se aventurando pela livraria agora", comemora.

Única na França

"A Livraria Portuguesa e Brasileira é a única na França", lembra o proprietário, Michel Chandeigne. "E também não há quase nenhuma livraria hispânica, porque as grandes livrarias hispânicas desapareceram há mais de 15 anos. Essa é a evolução normal dos livros estrangeiros na França. As livrarias estrangeiras fecham porque precisam competir com sites on-line diretos em países como Portugal, Espanha, Brasil, e assim por diante", contextualiza. "E também porque os livros estrangeiros podem ser encontrados de segunda mão em tantos sites que os leitores - estudantes - preferem ler em PDFs, eles não compram mais livros. Portanto, há uma queda na demanda, o que torna bastante complicado manter o ritmo", admite Chandeigne.

"Somos capazes de manter essa atividade na livraria porque também publicamos livros, e porque dou muitas palestras, e estamos em uma boa localização, um bom endereço", diz o proprietário francês. "E a Corinne [funcionária e produtora de eventos da livraria desde 2015] tem muita energia, além do fato da livraria ter 38 anos. Temos também um site que atende clientes em todo o mundo, portanto, estamos nos mantendo. Mas a tendência é de erosão. Perdemos quase todos os nossos clientes em potencial devido às vendas online. Não se trata apenas da Amazon. São todos os sites que vendem livros online, e os nossos são livros estrangeiros", lembra.

Pessoas de todo o mundo

"O público é extremamente variado porque temos pessoas de todo o mundo. Temos um site que nos permite fazer entregas. Acabei de enviar livros para os Estados Unidos esta manhã, mas também enviamos para o Japão", conta Corinne Saulneron, que recebe os clientes na livraria há 9 anos. "Fazemos entregas em quase todos os lugares porque, na verdade, a cultura portuguesa semeou admiradores em quase todo o mundo. Isso significa que tenho até vietnamitas que vêm comprar livros comigo no verão, porque eles ainda estão ensinando português no Vietnã", conta.

"O público é extraordinariamente variado. É por isso que é um prazer. Temos 80% dos livros em português e 20% de traduções de livros lusófonos brasileiros, portugueses ou africanos. E, acima de tudo, também temos livros sobre descobertas, um pouco um hobby, para Michel Chandeigne, que adora histórias de navegação e naufrágios, especialmente naufrágios", diverte-se Corinne Saulneron.

"As livrarias estrangeiras em todo o mundo, e isto é fenômeno geral, estão desaparecendo, exceto as livrarias francesas, porque são subsidiadas pelo Estado francês, recebem ajuda e apoio", sublinha o livreiro. "Portanto, as livrarias francesas subsistem em todo o mundo. Mas essa é uma política governamental. E, no momento, essa política não contempla o lado brasileiro ou português. Talvez isso mude", analisa.

"Há 10 anos, não era possível encontrar todos esses livros brasileiros e portugueses online. Agora é possível encontrá-los em sites de segunda mão na França, no exterior, em todos os lugares. Portanto, a concorrência está em toda parte. Não há lei, é uma anarquia. Em Portugal, por exemplo, as editoras podem fazer vendas diretas subtraindo o preço dos livros desde o início, com descontos de 30 a 40%. Eles não têm essa lei de preço único, que protege a rede de editoras e livrarias na França", conclui o proprietário.

"Diversifiquei as atividades da livraria fazendo muitas conferências, então temos essa fonte adicional de renda. Mas é só isso. O futuro a médio prazo é que essa livraria desaparecerá, sim", lamenta Chandeigne.

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"Às vezes eu gostaria de deixar um microfone escondido aqui na frente da porta, para ouvir e gravar o que as pessoas estão dizendo, porque há uma surpresa real das pessoas que passam ao descobrir uma livraria de língua portuguesa. Também é muito divertido ouvir esses comentários", brinca Corinne Saulneron, braço direito (e esquerdo) de Michel Chandeigne na Livraria Portuguesa e Brasileira de Paris. Responsável não só por acolher o público, a francesa Corinne sabe dizer em minúcias de detalhes, com uma incrível miríade de sutilezas, a diferença entre um Jorge Amado de tal época e suas versões mais atuais, o subtexto presente na ironia do baiano, ou ainda quantas vezes aquela obra específica foi republicada.

"Temos 8 mil títulos disponíveis na livraria e também tentamos dar visibilidade aos novos lançamentos brasileiros. Não estamos preocupados em ter sempre livros novos. O que gostamos mesmo é de ter livros aprofundados, livros que podemos recomendar, livros em que acreditamos e que amamos", detalha Saulneron.

"Então, tentamos seguir em frente mesmo com os problemas. E também levamos em conta nossos clientes. Temos a sorte de ter parcerias com as grandes bibliotecas, instituições que confiam em nós, como a BNF, a Biblioteca Nacional da França, que nos pede belos livros de arte do Brasil", diz. "Estamos tentando nos tornar mais visíveis gradualmente. Por isso, também gostaríamos de agradecer à [série] Emily in Paris, não é? A famosa série que tirou a Place de l'Estrapade da obscuridade e nos trouxe mais alguns clientes, e uma clientela mais jovem. Sim, temos mais jovens que estão se aventurando pela livraria agora", comemora.

Única na França

"A Livraria Portuguesa e Brasileira é a única na França", lembra o proprietário, Michel Chandeigne. "E também não há quase nenhuma livraria hispânica, porque as grandes livrarias hispânicas desapareceram há mais de 15 anos. Essa é a evolução normal dos livros estrangeiros na França. As livrarias estrangeiras fecham porque precisam competir com sites on-line diretos em países como Portugal, Espanha, Brasil, e assim por diante", contextualiza. "E também porque os livros estrangeiros podem ser encontrados de segunda mão em tantos sites que os leitores - estudantes - preferem ler em PDFs, eles não compram mais livros. Portanto, há uma queda na demanda, o que torna bastante complicado manter o ritmo", admite Chandeigne.

"Somos capazes de manter essa atividade na livraria porque também publicamos livros, e porque dou muitas palestras, e estamos em uma boa localização, um bom endereço", diz o proprietário francês. "E a Corinne [funcionária e produtora de eventos da livraria desde 2015] tem muita energia, além do fato da livraria ter 38 anos. Temos também um site que atende clientes em todo o mundo, portanto, estamos nos mantendo. Mas a tendência é de erosão. Perdemos quase todos os nossos clientes em potencial devido às vendas online. Não se trata apenas da Amazon. São todos os sites que vendem livros online, e os nossos são livros estrangeiros", lembra.

Pessoas de todo o mundo

"O público é extremamente variado porque temos pessoas de todo o mundo. Temos um site que nos permite fazer entregas. Acabei de enviar livros para os Estados Unidos esta manhã, mas também enviamos para o Japão", conta Corinne Saulneron, que recebe os clientes na livraria há 9 anos. "Fazemos entregas em quase todos os lugares porque, na verdade, a cultura portuguesa semeou admiradores em quase todo o mundo. Isso significa que tenho até vietnamitas que vêm comprar livros comigo no verão, porque eles ainda estão ensinando português no Vietnã", conta.

"O público é extraordinariamente variado. É por isso que é um prazer. Temos 80% dos livros em português e 20% de traduções de livros lusófonos brasileiros, portugueses ou africanos. E, acima de tudo, também temos livros sobre descobertas, um pouco um hobby, para Michel Chandeigne, que adora histórias de navegação e naufrágios, especialmente naufrágios", diverte-se Corinne Saulneron.

"As livrarias estrangeiras em todo o mundo, e isto é fenômeno geral, estão desaparecendo, exceto as livrarias francesas, porque são subsidiadas pelo Estado francês, recebem ajuda e apoio", sublinha o livreiro. "Portanto, as livrarias francesas subsistem em todo o mundo. Mas essa é uma política governamental. E, no momento, essa política não contempla o lado brasileiro ou português. Talvez isso mude", analisa.

"Há 10 anos, não era possível encontrar todos esses livros brasileiros e portugueses online. Agora é possível encontrá-los em sites de segunda mão na França, no exterior, em todos os lugares. Portanto, a concorrência está em toda parte. Não há lei, é uma anarquia. Em Portugal, por exemplo, as editoras podem fazer vendas diretas subtraindo o preço dos livros desde o início, com descontos de 30 a 40%. Eles não têm essa lei de preço único, que protege a rede de editoras e livrarias na França", conclui o proprietário.

"Diversifiquei as atividades da livraria fazendo muitas conferências, então temos essa fonte adicional de renda. Mas é só isso. O futuro a médio prazo é que essa livraria desaparecerá, sim", lamenta Chandeigne.

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